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terça-feira, 5 de junho de 2012

Mercado doméstico vira o novo filão das operadoras de encomendas expressas

Com o fortalecimento da economia brasileira, as companhias internacionais mudam o foco e ampliam investimentos

Jacilio Saraiva

A mudança do cenário econômico, com o fortalecimento do mercado interno, deu novo impulso ao setor de encomendas expressas, que movimenta RS 17 bilhões ao ano no Brasil. "Até cinco anos atrás, companhias internacionais como TNT, DHL Express, FedEx e UPS tinham mais interesse pelo comércio internacional", explica Leonardo Lincoln, gerente de projetos de consultoria do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), especializado em logística. O quadro se inverteu e, agora, essas empresas programam grandes investimentos para 2012. Só os Correios, principal operador nacional, prometem investir RS 847 milhões até o fim do ano.



"O crescimento da economia brasileira, aliado à expansão do comércio eletrônico, deu nova dimensão ao volume interno, que hoje cresce mais que o internacional", diz o consultor. A mudança é visível nos balanços. Nos últimos cinco anos, a receita das empresas aumentou, em média, de 12% a 17%. Para Lincoln, o setor está em fase de crescimento e de maior profissionalização. "A logística das encomendas expressas é uma atividade de alta complexidade operacional, mas também proporciona melhores margens para as pagadoras", diz. "A rentabilidade média varia de 15% a 25% da receita, enquanto em transportes menos elaborados essa relação cai para 5% a 10%”, completa.


Enquanto se manteve voltado para o envio e recebimento de encomendas para o exterior, o mercado exigia dos transportadores conhecimento de comércio internacional e uma malha global que viabilizasse as entregas, características que restringiam a quantidade e o perfil dos competidores. A mudança no cenário trouxe mais investimentos ao mercado. Ao mesmo tempo, o Brasil conseguiu acomodar as grandes empresas internacionais e organizações de atuaçào regional, como a JadLog. "A concorrência ficou mais acirrada", diz Lincoln.


Uma das mais recentes movimentações foi a aquisição da holandesa TNT Express pela americana UPS, por US$ 6,7 bilhões, ocorrida em março. Para especialistas, a operação deve criar a maior empresa de logística do mundo, capaz de faturar € 45 bilhões ao ano. No Brasil, as duas empresas afirmaram ao Valor que o processo de aquisição está no começo e que é cedo para falar de possíveis mudanças nas operações locais.

Hoje, a UPS cobre mais de 220 países e enlrega 15,8 milhões de pacotes ao dia, em lodo o mundo. A receita de 2011 foi superior a US$ 53 bilhões - somente a divisão de operações expressas faturou US% 44 bilhões. Está no Brasil desde 1989, com 610 funcionários.


No último ano, a empresa expandiu operações ao abrir oito novos centros operacionais nas cinco regiões do país. A quantidade de couriers aumentou 47% e foi criado um armazém para cadeia fria, desenvolvida para atender a necessidades de "health care". "No planejamento para 2012 projetamos um crescimento de dois dígitos, acima da média dos anos anteriores", afirma Nadir Moreno, presidente da UPS do Brasil.

A empresa, segundo a executiva, teve de se posicionar para atender às novas exigências de consumo, cada vez mais urgentes. "Reduzimos em um dia o tempo de trânsito em 29 cidades, estendendo em três horas o último horário de solicitação de coleta", conta. A presença de outros competidores, como os Correios, na mesma área não parece incomodar a UPS. "A concorrência contribui para melhorar os níveis de serviço, fortalecer o Produto Interno Bruto (PIB) e a receita do governo", diz.

Lincoln, do Ilos, explica que somente a União pode explorar, por lei, em regime de monopólio, o transporte de cartas, cartões postais e correspondências agrupadas. A correspondência agrupada é considerada a reunião de objetos de uma mesma ou de diversas naturezas, quando, pelo menos um deles, estiver sujeito ao monopólio postal. Em resumo, se o usuário quiser enviar uma caixa de presente, pode contratar qualquer empresa. Mas se mandar uma carta junto com a encomenda, só poderá utilizar os Correios.

No ano passado, a receita de vendas dos Correios cresceu 8,7%, alcançando R$ 13,7 bilhões. A participação das encomendas expressas no total de 2011 foi de 28,8%. “A meta para 2012 é um crescimento de 14% em relação a 2011”, diz o presidente dos Correios, Wagner Pinheiro de Oliveira. "O aumento vai ser obtido com um modelo mais moderno de gestão corporativa, tecnológica e operacional."

Dos R$ 200 milhões investidos em 2011 na área operacional e de infraestrutura, R$ 95 milhões pagaram 5,2 mil novos veículos e 1,2 mil equipamentos de carga, como empilhadeiras e paleteiras, além da contratação de quase dez mil trabalhadores, por concurso público. A empresa tem 115 mil funcionários.

"O plano plurianual prevê investimentos de R$ 4,3 bilhões até 2015", adianta Oliveira. Os recursos servirão para atender a um novo perfil de encomenda expressa. O crescimento do e-commerce e das transações B2C (business-to-consumer) e B2B (business-to-business) deve provocar o aumento do peso e do valor da carga transportada, na avaliação do vice-presidente de negócios dos Correios, José Furian Filho.

O volume médio de produtos transportados pelos Correios por mês é de 13 milhões de encomendas, entre clientes de comércio eletrônico, livrarias, fabricantes de celulares e de elelroeletrônicos. "Com a redução da participação de documentos nas remessas, o peso médio das entregas aumentou dois quilos, ao longo dos últimos cinco anos”, explica.

Segundo Furian, o setor pode ganhar mais mercado com a adequação da capacidade logística às demandas do país. "Os Correios dependem do crescimento da oferta de aeronaves cargueiras para dar vazão aos pedidos" diz. Com base cm estudos da Boeing e Airbus, Lincoln, do Ilos, diz que o mercado mundial de frete aéreo internacional, ligado à logística expressa, deve crescer em média 5,1 % ao ano. até 2030. Na América latina, o Brasil ocupa posição de destaque na tonelagem aérea movimentada com os Estados Unidos e a Europa, representando 20% do volume total entre as regiões.

Durante a última greve dos funcionários dos Correios, em 2011, empresas de entregas expressas registraram um aumento médio de 30% na demanda. Foi o caso da JadLog, com mais de 480 unidades e franquias no Brasil. Faturou R$ 264 milhões em 2011, valor 28,4% superior ao ano anterior, e transportou 5,9 milhões de volumes, aumento de 27,4% ante 2010.

Em 2012 a expectativa é crescer 15% e alcançar mais de RS 300 milhões de faturamento. "Vamos ganhar participação em encomendas para os setores automotivo, promocional, de assistência técnica e bancário", prevê o diretor Ronan Hudson. A empresa planeja investir RS 25 milhões até dezembro em TI, além do aumento e renovação da frota, que cresce, em média, 8% ao ano. A JadLog tem uma frota aérea de 31 aviões de 1,5 tonelada de capacidade, a maioria modelos Cessna. Os recursos incluem mais de 200 caminhões e carretas, além de 1,6 mil utilitários e 1,1 mil veículos de franqueados.


Para I.uiz Fernando Simabukulo, gerente de customer service da TNT no Brasil, o setor conta com o apoio do poder público para manter o ritmo ascendente. "A economia precisa continuar crescendo c o governo deve manter investimentos nas rodovias e aeroportos", diz. A TNT tem oito mil funcionários e 2,5 mil veículos no Brasil. Transporta, em média, cinco milhões de produtos ao mês, principalmente para os ramos de autopeças, eletrônicos e calçados. Em 2011, reforçou investimentos em automação, com a aquisição de sislemas de terminais automatizados para São Paulo e Campinas (SP), além da abertura de filiais em Feira de Santana (BA), Blumenau (SC) e Aracaju (SE).


Neste ano, já inaugurou uma unidade em Salvador (BA) e vai criar escritórios em Uberaba e Uberlândia (MG). "Com o crescimento da economia, os clientes enviam produtos para mais regiões no país, principalmente o Norte, Nordeste e Centro-Oeste" Outros competidores do setor anunciam medidas para dinamizar serviços. Em março, a DHL Express lançou um portal com informações sobre comércio exterior para pequenas e médias empresas. Já a FedEx apresentou um aplicativo para celular capaz de comparar tarifas, rastrear remessas e agendar coletas. "Há oportunidades para as empresas utilizarem softwares para aperfeiçoar a gestão da frota, a estrutura dos terminais e a performance no trânsito das mercadorias", diz Lincoln.

Fonte: Revista Valor Setorial Logística (Abril/2012)

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